Livro: Apologética para Questões Difíceis da Vida, William L. Craig

23 de outubro de 2011 § 0

Gostei muito de ler Apologética para Questões Difíceis da Vida. William Lane Craig aborda temas de grande dúvida como as orações não respondidas, o fracasso, o sofrimento, o mal e os grandes causadores de polêmicas como aborto e homossexualidade. Eu assino em baixo a proposta do livro em oferecer respostas com uma reflexão bíblica profunda e honesta.

Achei muito interessante o capítulo de introdução em que Craig aborda a estagnação intelectual dos estudantes universitários norte-ameriacanos. Ele nos alerta sobre o analfabetismo bíblico e teológico e propõe um teste para analisarmos nosso conhecimento.

Por exemplo, se eu disser "John Wesley", você poderá escrever: "o fundador do Metodismo" ou "um reavivalista inglês do século XVIII".

Teste

Agostinho
Cocílio de Nicéia
Trindade
Duas naturezas unidas numa pessoa
Panteísmo
Tomás de Aquino
Reforma
Martinho Lutero
Expiação substitutiva
Iluminismo¹

Quando fiz, desconhecia completamente duas. Achei muito bacana, pois concordo com a visão dele da necessidade do cristão se tornar intelectualmente engajado. É uma pena que muitos cristãos não se interessem em aprofundar seu conhecimento. Craig tem razão, nós temos de preservar a verdade de nossa própria herança e doutrina cristã, se não fizermos isso ninguém fará por nós. Recomendo como um livro essencial para um crescimento intelectual e também para firmar nossa fé em Cristo.

¹ Willian Lane Craig, Apologética para Questões Difíceis da Vida, São Paulo : Vida Nova 2010, p. 13

PlayStation Network fora do ar

9 de maio de 2011 § 0


Já faz alguns dias que não me sobra tempo para jogar Killzone 3 online, até tentei jogar um dia desses mas a PSN estava fora do ar. Fui jogar este domingo e o mesmo alerta apareceu, já imaginei: “Meu PS3 está com problema”. No entanto resolvi pesquisar na internet para ver o que estava acontecendo e para minha surpresa a rede foi hackeada e talvez não volte tão cedo, conforme as notícias abaixo:


Após 15 dias, PlayStation Network continua fora do ar; entenda o que aconteceu
05/05/2011 - 17h26

RODRIGO GUERRA
Colaboração para UOL

Lá se vão exatamente 15 dias desde que a rede online PSN saiu do ar, impedindo usuários de jogarem online com seus pobres PlayStation 3 e PSP, comprar itens na PS Store e, veja só, até mesmo comparar troféus com amigos e jogar títulos que exigem autenticação online, como "Bionic Commando Rearmed 2".

A confusão é grande e envolve não apenas a Sony, mas também o FBI, senadores americanos, grupos de hackers e até mesmo o Ministério da Justiça do Brasil. No meio dessa bagunça, a Sony prometeu que a rede voltaria a funcionar - ainda que parcialmente - nesta semana, mas não deu uma data precisa e ao menos até a publicação desta nota ela continuava em manutenção.


Para você entender direitinho tudo o que aconteceu com a Sony e a PSN nestas últimas semanas, resumimos os principais fatos na linha do tempo abaixo, devidamente acompanhada de links para as notícias completas.


ENTENDA O QUE ACONTECEU

Invasão Detectada (19 de abril)
Sony identifica uma atividade "não-autorizada" em sua rede. Quarto servidores (de um total de 130) são desativados e separados para serem investigados.
BAIXAS DA PRIMEIRA SEMANA
Divulgação
Com a falta da PSN, partidas online de "Portal 2" só funcionam via Steam
Crédito
Quem comprou "Socom 4" teve que se contentar com o modo solo

PSN Fora do Ar (20 de abril)
A Sony Network Entertainment of America encontra diversos indicativos de que os seus servidores foram invadidos, encontrado mais seis máquinas que poderiam ter sido comprometidas. Durante as investigações a empresa descobre que alguns dados foram transferidos para fora da rede. Mesmo não sabendo quais dados foram esses, a Sony derruba o sistema e contrata uma empresa especializada em "investigação forense" para averiguar o que aconteceu.

Páscoa Sem PSN (21 de abril)
Na véspera do feriado de Páscoa, a rede PlayStation Network continua fora do ar. Em comunicado em seu site oficial, a Sony diz que o serviço pode ficar fora do ar por dois dias. (leia mais).

FBI Entra em Ação (22 de abril)
A Sony notifica o FBI sobre a invasão à rede PlayStation Network e agenda uma reunião com o órgão para o dia 27 de abril. Dois dias depois do início das investigações, a empresa ainda não sabe determinar a gravidade da situação. A empresa diz que os problemas com a rede poderiam continuar pelo feriado (leia mais).

Invasores Sofisticados (23 de abril)
No final da noite o time de investigação confirma que os invasores usaram métodos "bastante sofisticados e agressivos para obter acesso não-autorizado, esconder sua presença dos administradores e conseguir privilégios nos servidores", o que inclui a possibilidade de apagar arquivos de log.

Reforço nas Investigações (24 de abril)
A SNEA contrata um terceiro time para ajudar na investigação e identificar o "escopo do roubo de dados".

Dados Vazados (25 de abril)
Os times de investigação confirmam que os dados de toda base de usuários da PlayStation Network (77 milhões de usuários) foi afetada, "entretanto, nem todas as informações dessas contas foram roubadas". As equipes não conseguiram assegurar se os dados de cartão de crédito também foram obtidos. Em nota no blog oficial do PlayStation, a empresa diz que está reconstruindo os servidores da PSN (leia mais). 


OFFLINE
Veja o que é possivel fazer com o PS3 sem a rede PSN:
Jogar onlineNão, sem a rede é impossível jogar online
Jogar offlineSim, porém somente com games sem a necessidade de autenticação
Comprar jogosNão, sem a rede não é possível acessar a PS Store
Sincronizar TroféusNão, sem a PSN não é possível atualizar os troféus do PS3
Acessar a InternetSim, o navegador do PS3 não utiliza a rede PSN
Alterar dadosNão, sem a rede não é possível alterar ou apagar dados da PSN
Assistir a vídeosSim
Ouvir músicasSim

O Povo quer Saber (26 de abril)
A SNEA e a SCEA "coordenaram uma notificação pública da invasão", com uma mensagem no blog oficial do PlayStation confirmando que dados pessoais dos usuários foram obtidos e que, mesmo não havendo evidências de que os dados de cartão de crédito dos usuários, esta era uma possibilidade que não poderia ser descartada (leia mais) . A notificação foi enviada para diversos usuários da PSN e agências regulatórias dos estados de Nova Jersey, Maryland e New Hampshire.

Aviso às Autoridades (27 de abril)
A SNEA notifica agências regulatórias dos estados do Havaí, Louisiana, Maine, Massachussets, Nova York, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Virginia e Porto Rico. Os problemas da rede força a Sucker Punch aumentar o período dos testes beta de "InFamous 2" (leia mais). Além disso, a revista Forbes divulgou um estudo que estima que a Sony terá um prejuízo de US$ 24 bilhões (leia mais).

Investigação da Imprensa (28 de abril)
A Reuters descobre que a Sony pediu ajuda para o FBI . Segundo a agencia de notícias, autoridades do Canadá também vão ajudar no desenrolar das investigações.

Dados de Usuários à Venda? (29 de abril)
Especulações começam a surgir na internet. Um especialista de segurança disse ao site Cnet que dados de 2 milhões de usuários da PSN estariam à venda na internet. Operadoras de crédito, no entanto, afirmam que os dados de cartões ainda não foram utilizados. Na tentativa de deixar os usuários mais calmos, a Sony confirmou que os dados de usuários da PSN, como troféus, arquivos de save e lista não foram perdidos.


BEM-VINDO DE VOLTA
Reprodução
Quando a PSN voltar, todos usuários vão receber 1 mês de PS Plus
Pedido de Desculpas (1º de maio)
No Dia do Trabalho, Kaz Hirai, o presidente da Sony Computer Entertainemnt Inc, fez uma coletiva de imprensa para pedir desculpas aos usuários das redes online da empresa e informar que a rede voltará nesta semana. Hirai aproveitou o evento e anunciou o programa "Welcome Back" para compensar os usuários. No mesmo dia, a Sony Online Entertainment indentifica um arquivo em um de seus servidores, escrito por um invasor chamado "Anonymous" e com a mensagem "Nós Somos a Legião".

A Recusa de Depoimento no Senado (3 de maio)

Mesmo se negando a comparecer no senado norte-americano, a Sony informa que vai responder a todas as perguntas dos congressistas.

Problema Chega ao Brasil (4 de maio)

As preocupações com os problemas da PlayStation Netork chegam ao Brasil e a Secretaria de Direito Econômico, pede que a Sony do Brasil preste esclarecimentos sobre a quantidade de brasileiros que foram envolvidos no vazamento de dados da PSN. 


08/05/2011 - 15h05

Por Agências

A Sony removeu da internet os nomes e endereços de 2500 competidores que tiveram seus dados roubados por hackers e postados em um website, e disse que não sabe quando poderá restaurar a rede PlayStation Network.


A empresa, que está sob críticas desde que hackers acessaram os dados pessoais de cerca de 100 milhões de usuários dos serviços de jogos online da PlayStation Network e de PCs, afirmou em comunicado que detalhes postados em um website inativo também incluíam três endereços de e-mail não confirmados.

Os dados eram de clientes que entraram em uma competição de prêmios em 2001. A lista não incluía informações de cartões de crédito ou senhas.

“O website estava desatualizado e inativo quando foi descoberto como parte dos ataques continuados à Sony”, afirmou a empresa, acrescentando que a companhia tirou o site do ar pouco após descobrir sobre as postagens, na quinta-feira.

O chefe-executivo da Sony, Howard Stringer, pediu desculpas na sexta-feira aos usuários da PlayStation Network e de outros serviços online, quebrando seu silêncio sobre o grande vazamento de dados ocorrido.

No domingo passado a Sony disse que começaria a restaurar os serviço durante a semana, mas uma porta-voz declarou neste sábado que isso não seria possível e não fixou data para o retorno.

/REUTERS

Norman Geisler: Uma Apologética a Favor da Apologética

30 de abril de 2011 § 0


Encontrei este texto de Norman Geisler no indispensável blog Deus em Debate. Nele o autor refuta argumentos que são contra a apologética. Desde que me interessei em estudá-la minha fé só tem aumentado, sem dúvida é algo que realmente vale a pena e o texto abaixo confirma isto.

WWW.DEUSEMDEBATE.BLOGSPOT.COM

UMA APOLOGÉTICA A FAVOR DA APOLOGÉTICA

NORMAN GEISLER


Introdução

O cristianismo está sob ataque hoje, e deve ser defendido. Há ataques internos, de cultos, seitas e heresias. E há ataques externos, por ateus, céticos e outras religiões. A disciplina que lida com uma defesa racional da fé cristã é chamada de apologética. Ela vem da palavra grega apologia (cf. 1 Pedro 3:15), que significa dar uma razão ou defesa.

I. As objecções à defesa da Fé: Bíblicas e extra-bíblicas

Muitas objeções têm sido oferecidas contra fazer apologética. Alguns tentam oferecer uma justificação bíblica. Outros são baseados no raciocínio extra-bíblico. Primeiro, vamos dar uma olhada nas que se baseiam em textos bíblicos.

A. Objecções à Apologética de dentro da Bíblia

1. A Bíblia não precisa ser defendida

Uma objeção para a apologética feita muitas vezes é a afirmação de que a Bíblia não precisa ser defendida, simplesmente precisa ser exposta. Hebreus 4:12 é frequentemente citado como evidência: "A Palavra de Deus é viva e poderosa..." (NVI). Diz-se que a Bíblia é como um leão; não precisa ser defendida, mas simplesmente solta. Um leão pode se defender. Várias coisas devem ser notadas como resposta a isso. Em primeiro lugar, isso nos leva a perguntar se a Bíblia é ou não a Palavra de Deus. É claro, a Palavra de Deus é suprema, e fala por si mesma. Mas, como sabemos que a Bíblia é a Palavra de Deus, e não o Alcorão, o Livro de Mórmon, ou algum outro livro? É preciso apelar para a evidência para determinar quais dos muitos livros em conflito realmente é a Palavra de Deus.
Em segundo lugar, nenhum cristão aceitaria sem questionar se um muçulmano declarasse "o Alcorão é vivo e poderoso e mais penetrante que uma espada de dois gumes...” Nós exigiríamos evidências. Da mesma forma, nenhum não-cristão deve aceitar a nossa alegação sem provas.
Em terceiro lugar, a analogia do leão é enganosa. O rugido de um leão fala com autoridade apenas porque sabemos, a partir de um conhecimento prévio, o que um leão pode fazer. Sem os contos admiráveis sobre a ferocidade de um leão, seu rugido não teria o mesmo efeito de autoridade sobre nós. Da mesma forma, sem evidência para estabelecer o crédito à autoridade, não há nenhuma boa razão para se aceitar essa autoridade.

2. Jesus se recusou a fazer sinais para homens maus

Alguns argumentam que Jesus repreendeu as pessoas que procuravam por sinais. Por isso, devemos estar contentes simplesmente com acreditar sem evidências. Na verdade, Jesus em uma ocasião repreendeu buscadores de sinais. Ele disse: "Uma geração má e adúltera pede um milagre!" (Mateus 12:39 cf. Lucas 16:31). No entanto, isso não significa que Jesus não queria que as pessoas olhassem para a evidência antes de acreditarem, por muitas razões:
Em primeiro lugar, nesta mesma passagem, Jesus ofereceu o milagre da Sua ressurreição como um sinal de quem Ele era, dizendo: "Mas nenhum lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas” (Mateus 12:39-40). Da mesma forma, Paulo deu muitas evidências para a ressurreição (em 1 Coríntios 15). E Lucas fala de "muitas provas incontestáveis" (Atos 1:3) da ressurreição.
Em segundo lugar, quando João Batista perguntou se Ele era o Cristo, Jesus ofereceu milagres como prova, dizendo: "Ide e anunciai a João o que vedes e ouvis: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e as boas novas são anunciadas aos pobres" (Mt 11:5). Ao responder aos escribas, Ele disse: “Mas, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados. ‟Ele disse ao paralítico: Eu te digo, levanta-te, toma o teu leito e vai para casa” (Mc 2:1011). Nicodemos disse a Jesus: "Rabi, sabemos que és um Mestre vindo da parte de Deus. Pois ninguém poderia realizar os sinais miraculosos que estás fazendo, se Deus não fosse com ele" (João 3:2).
Em terceiro lugar, Jesus se opunha à busca de sinais e a entreter as pessoas através de milagres. De fato, Ele se recusou a realizar um milagre para satisfazer a curiosidade do rei Herodes (Lc 23:8). Em outras ocasiões, Ele não fez milagres por causa da sua incredulidade (Mt 13:58), não desejando "lançar pérolas aos porcos". O propósito dos milagres de Jesus foi apologético, ou seja, o de confirmar a sua mensagem (cf. Êx 4:1;. Jo 3:2;. Hb 2:3-4). Ele fez isso em grande abundância, pois "Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus fez entre vocês por intermédio dele..." (Atos 2:22).

3. Paulo não teve sucesso com seu uso da razão no Areópago e, posteriormente, descartou essa abordagem

Os opositores da apologética muitas vezes argumentam que Paulo não foi bem sucedido em sua tentativa de alcançar os pensadores no Areópago (Atos 17), que rejeitou o método e que, posteriormente, disse aos coríntios que ele queria "conhecer a Jesus e a Ele somente" (1 Cor. 2:2 ). No entanto, esta interpretação é baseada em um mal-entendido do texto.
Primeiro, Paulo teve resultados no Areópago, pois algumas pessoas foram salvas, incluindo um filósofo. O texto diz claramente "Alguns homens se tornaram seguidores de Paulo e creram. Entre eles estava Dionísio, membro do Areópago, também uma mulher chamada Damaris, e uma série de outros" (Atos 17:34).
Segundo, em nenhum lugar, nem em Atos nem em 1 Coríntios, Paulo indica qualquer arrependimento ou pesar pelo que ele fez no Areópago. Esta é uma leitura no texto que simplesmente não está lá.
Terceiro, a declaração de Paulo sobre pregar Jesus e Jesus comente não é uma mudança no conteúdo da pregação de Paulo. Isso é o que ele fazia em toda parte. Mesmo para os filósofos "ele pregava a Jesus e a ressurreição" (Atos 17:18 cf. V. 31). Então, nesse texto, não há nada de original sobre aquilo que ele pregava, era simplesmente assim que ele fazia.
Paulo adaptava o seu ponto de partida à situação da audiência. Com os pagãos em Listra, ele começou com um apelo à natureza (Atos 14) e terminou pregando Jesus a eles. Com os judeus, começou com o VT e direcionou-se para Cristo (Atos 17:2-3). Mas, com os pensadores gregos, Paulo começou com a criação e a razão para um Criador e depois falou de Seu Filho Jesus que morreu e ressuscitou (Atos 17:24 f).

4. Somente a fé, não a razão, pode agradar a Deus

Hebreus 11:6 insiste que "sem fé é impossível agradar a Deus." Isto parece argumentar contra a necessidade da razão. Na verdade, parece que pedir razões, em vez de simplesmente acreditar, desagradaria a Deus. Em resposta a este argumento contra a apologética, dois pontos importantes devem ser levantados.
Antes de tudo, o texto não diz que com a razão é impossível agradar a Deus. Ele diz que sem fé não se pode agradar a Deus. Ele não elimina a razão acompanhando a fé ou uma fé racional.
Em segundo lugar, Deus de fato nos convida a usar a nossa razão (1 Ped. 3:15). Na verdade, deu "claras" (Rm 1:20) e "convincentes provas" (Atos 01:03 NVI) de modo que não tenhamos de exercer uma fé cega. Em terceiro lugar, este texto de Hebreus não exclui a "evidência", mas na verdade a pressupõe. Pois da fé é dito ser "a evidência" das coisas que não vemos (Hebreus 11:1 NVI). Por exemplo, a evidência de que alguém é uma testemunha confiável justifica minha crença no seu testemunho do que viu e eu não. Mesmo assim, nossa fé em "coisas que não vemos" (Hebreus 11:1 NVI) é justificado pelas provas que temos de que Deus existe, que é "claramente visto, a ser entendido a partir do que foi feito" (Rm 1:20).

5. Paulo disse que Deus não pode ser conhecido pela razão humana quando ele escreveu, "o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus" (1 Cor. 01:21 NVI).

No entanto, isso não pode significar que não há provas da existência de Deus, uma vez que Paulo declarou em Romanos que as provas da existência de Deus são tão "evidentes" que tornam o próprio pagão "indesculpável" (Rm 1:19-20). Além disso, o contexto de 1 Coríntios não é a existência de Deus, mas seu plano de salvação através da cruz. Isso não pode ser conhecido por mera razão humana, mas apenas por revelação divina. É "loucura" para a mente humana depravada.
Além disso, a "sabedoria" de que fala é "a sabedoria deste mundo" (v. 20), não a sabedoria de Deus. Paulo chamou um sofista de "argumentador deste mundo" (v. 20). Um sofista poderia argumentar só por argumentar. Isto não leva ninguém a Deus.
Além disso, a referência de Paulo ao mundo como a sabedoria não conhecer a Deus não é uma referência à incapacidade do ser humano de conhecer a Deus através das provas que Ele tem revelado na criação (Rm 1:19-20) e consciência (Rm 2:12 -15). Pelo contrário, é uma referência à depravada e louca rejeição do homem à mensagem da cruz.
Finalmente, nesse mesmo livro de 1 Coríntios, Paulo dá a sua maior prova apologética da fé cristã - as testemunhas oculares da ressurreição de Cristo, que seu companheiro de Lucas chamou de "muitas provas incontestáveis" (Atos 1:3 NVI).
De fato, embora o homem conheça claramente por meio da razão humana que Deus existe, no entanto, ele "suprime" ou "sufoca” essa verdade em injustiça (Romanos 1:18). Assim, é a presença de tais fortes evidências que o torna "indesculpáveis" (Rm 1:20).

6. O homem natural não pode entender as verdades espirituais

Paulo insistiu que "o homem sem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus ..." (1 Cor. 2:14). Eles não podem sequer "conhecê-las.” Que uso, então, teria a apologética? Em resposta a este argumento contra a apologética, duas coisas devem ser observadas.
Primeira, Paulo não diz que as pessoas naturais podem não perceber a verdade sobre Deus, mas apenas que eles não recebê-la (Gr.: dekomai, bem-vindo). De fato, Paulo declarou enfaticamente que as verdades básicas sobre Deus são "claramente vistas" (Rm 1:20). O problema não é que os incrédulos não estão cientes da existência de Deus, mas que eles não querem aceitá-Lo por causa das consequências morais que isso teria na sua vida pecaminosa.
Segunda, 1 Coríntios. 2:14 diz que eles não "conhecem" (Gr.: ginosko), o que pode significar “conhecer pela experiência.” Em outras palavras, eles conhecem a Deus em sua mente (Rm 1:19-20), mas não aceitaram a Ele em seu coração (Romanos 1:18). A Bíblia diz: “Diz o insensato em seu coração, „Não há Deus‟” (Salmo 14:1).

7. Somente o Espírito Santo pode trazer alguém para Cristo

A Bíblia diz que a salvação é uma obra do Espírito Santo. Só ele pode condenar, convencer e converter (João 16:8; Ef 2:1;. Tito 3:5-7). Isto é certamente verdadeiro, e nenhum cristão ortodoxo nega isso. No entanto, duas coisas devem ser mantidas em mente.
Primeiro, a Bíblia não ensina que o Espírito Santo vai sempre fazer isto aparte da razão e da evidência. Não é “ou o Espírito Santo ou a razão.” Pelo contrário, é o razoável Espírito Santo usando uma boa razão para alcançar pessoas racionais. Deus é sempre a causa eficiente da salvação, mas os argumentos apologéticos podem ser uma causa instrumental usada pelo Espírito Santo para trazer uma pessoa para Cristo.
Em segundo lugar, os apologistas não acreditam que a apologética salve alguém. Ela apenas fornece a evidência à luz da qual as pessoas podem tomar decisões racionais. Ela apenas fornece evidências de que o cristianismo é verdadeiro. A pessoa ainda deve pôr sua fé em Cristo para ser salva. A apologética só leva o "cavalo" para a água. Somente o Espírito Santo pode convencer-lhe a beber.

8. A apologética não é usada na Bíblia

É argumentado que, se a apologética é bíblica, então por que não a vemos ser praticada na Bíblia? Há duas razões básicas para este mal-entendido.
Em primeiro lugar, em grande parte, a Bíblia não foi escrita para os incrédulos, mas para os crentes. Uma vez que eles já acreditam em Deus, Cristo, etc., já estão convencidos de que estes são verdadeiros. Assim, a apologética é dirigida principalmente para aqueles que não crêem, para que eles possam ter uma razão para acreditar.
Em segundo lugar, ao contrário da alegação dos críticos, apologética é usada na Bíblia. 1) O primeiro capítulo do Gênesis confronta os relatos míticos da criação conhecidos naqueles dias. 2) os milagres de Moisés no Egito eram uma apologética que Deus estava falando através dele (Ex. 4:1-9). 3) Elias fez apologética no Monte Carmelo, quando ele provou miraculosamente que o Senhor é o Deus verdadeiro, e não Baal (1 Reis 18). 4) Como temos mostrado em detalhe em outro lugar, Jesus estava constantemente envolvido em apologética, provando com sinais e maravilhas que Ele era o Filho de Deus (João 3:2, Atos 2:22). 5) O apóstolo Paulo fez apologética em Listra, quando ele deu provas da natureza para as nações que o Deus supremo do universo existiu e que a idolatria era errada (Atos 14). 6) O caso clássico da apologética no Novo Testamento é Atos 17, onde Paulo argumentou com os filósofos no Areópago. Ele não só apresentou evidências naturais de que Deus existe, mas também históricas de que Cristo é o Filho de Deus. Na verdade, ele citou pensadores pagãos em apoio da sua argumentação.

B. Objeções à Apologética de fora da Bíblia

Essas objeções contra a apologética são orientados a mostrar a sua irracionalidade, inadequação ou inutilidade. Muitas vêm de um ponto de vista racionalista ou cético. Outros são fideístas, que negam que a razão deve ser utilizada para apoiar a fé de uma pessoa.

1. A razão humana não pode nos dizer nada sobre Deus. Alguns críticos afirmam que a razão humana não pode nos dar qualquer informação a respeito de Deus.

Primeiro, isso diz que a razão não se aplica a questões sobre Deus. Mas essa declaração em si mesma é oferecida como uma declaração razoável sobre a questão de Deus. A fim de dizer que a razão não se aplica a Deus, é necessário aplicar a razão a Deus nessa declaração. Então, o raciocínio a respeito de Deus é inescapável. A razão não pode ser negada sem ser utilizada.
Em segundo lugar, a razão puramente hipotética em si não nos diz nada sobre a existência de algo, inclusive Deus. Mas, uma vez que inegavelmente existe algo (por exemplo, eu existo), então a razão pode nos dizer muito sobre a existência, inclusive Deus. Por exemplo, se algo finito e contingente existe, então algo infinito e necessário deve existir (ou seja, Deus). E se Deus existe, então é falso que Ele não existe. E se Deus é um ser necessário, então Ele não pode deixar de existir. Além disso, se Deus é o Criador e nós somos criaturas, então não somos Deus. Da mesma forma, a razão nos informa que, se Deus é onipotente, então Ele não pode fazer uma pedra tão pesada que Ele não pode levantar. Pois, tudo o que Ele pode fazer, Ele pode levantar.

2. A razão é inútil em assuntos religiosos

O Fideísmo argumenta que a razão não tem qualquer utilidade em questões que tratam de Deus. Deve-se simplesmente acreditar. Fé, não a razão, é o que Deus requer (Hebreus 11:6). Em resposta a isso, vários pontos podem ser levantados.
Em primeiro lugar, mesmo do ponto de vista bíblico, Deus convida-nos a usar nossa razão (Isaías 1:18; 1 Pe 3:15;. Mateus 22:36-37). Deus é um ser racional, e Ele nos criou como seres racionais. Deus não insultaria a razão que Ele nos deu pedindo-nos para ignorá-la em questões tão importantes como as nossas crenças sobre Ele.
Em segundo lugar, esta posição é fideísta e é auto-refutadora. Pois, ou há uma razão para acreditarmos que não devemos raciocinar sobre Deus ou não há. Se houver, então ela derrota a si mesma usando a razão para dizer que não devemos usar a razão. Se o fideísmo não tem nenhuma razão para não usar a razão, então é uma posição irracioal, em cujo caso não há nenhuma razão pela qual alguém deveria aceitar o fideísmo.
Além disso, afirmar que a razão é apenas opcional para um fideísta não será suficiente. Pois, ou o fideísta oferece algum critério para quando devemos ser racionais e quando não devemos, ou então sua visão é simplesmente arbitrária. Se ele oferece alguns critérios racionais para quando devemos ser racionais, então ele tem uma base racional para seu ponto de vista, caso em que ele não é realmente um fideísta, no final das contas. A razão não é o tipo de coisa em que uma criatura racional pode optar por participar. Em virtude de ser racional por natureza, uma pessoa deve ser parte do discurso racional. E um discurso racional exige que uma pessoa siga as leis da razão.
Uma das grandes contribuições feitas pelo falecido Francis Schaeffer foi sua ênfase na necessidade de uma abordagem racional para a apologética. Na sua obra Escape from Reason [Fuga da Razão], ele mostrou a futilidade dos quem tentam rejeitar a razão. Ele sempre criticou aqueles que fazem uma "dicotomia entre a razão e a não-razão." Ele também critica aqueles que abandonam a razão para descer um andar para o materialismo ou subir um andar para o misticismo.

3. Você não pode provar Deus ou o cristianismo pela Razão

De acordo com esta objeção, a existência de Deus não pode ser provada pela razão humana. A resposta depende do que se entende por "provar".
Primeiro, se "provar" significa demonstrar, com certeza matemática, então a maioria dos teístas concordam que a existência de Deus não pode ser provada neste sentido. A razão para isso é que a certeza matemática lida apenas com o abstrato, e a existência de Deus (ou qualquer outra coisa) é uma questão de existência concreta e real. A certeza matemática baseia-se em certos axiomas ou postulados que devem ser assumidos a fim de se obter uma conclusão necessária. Mas se a existência de Deus deve ser assumida a fim de ser provada, então a conclusão de que Deus existe é apenas baseada na suposição de que Ele existe, caso em que não é realmente uma prova a todos. A certeza matemática é dedutiva em sua natureza. Alega a partir de premissas dadas. Mas não se pode concluir validamente algo que não já esteja implícito na(s) premissa(s). Neste caso, seria preciso assumir que Deus existe na premissa de modo a validamente inferir esta na conclusão. Mas isso é petição de princípio.
Segundo, se por "provar", no entanto, queremos dizer "dar provas suficientes para" ou "dar boas razões para", então parece lógico que se pode provar a existência de Deus e da verdade do cristianismo. De fato, muitos defensores têm oferecido tais provas e as pessoas tem se tornado cristãs, depois de ler seus escritos.

4. Ninguém é convencido de verdades religiosas pela razão

Segundo este argumento, ninguém é persuadido a aceitar uma verdade religiosa através da razão. São fatores psicológicos, pessoais e subjetivos que levam a decisões religiosas, não argumentos racionais. Mas essa acusação é manifestamente falsa por várias razões.
Primeiro de tudo, quem já se tornou um crente, por pensar que era irracional e absurdo fazê-lo? Certamente, a grande maioria das pessoas que acreditam em Deus ou aceitam a Cristo fazem-no porque acham que isso é razoável.
Em segundo lugar, esta objeção confunde dois tipos de crenças: a crença em e crença de que. Certamente, a crença religiosa em Deus e em Cristo não é baseada na evidência e na razão. Mas sem elas, isso não acaba. Toda pessoa racional olha para ver se há indícios de que o elevador tem um piso antes de entrar no mesmo. Da mesma forma, todas as pessoas racionais querem provas de que um avião pode voar antes de entrar nele. Assim, a crença de que é anterior à crença em. A apologética lida com o primeiro tipo. Ela fornece provas de que Deus existe, de que Cristo é o Filho de Deus, e de que a Bíblia é a Palavra de Deus. A decisão religiosa é um passo de fé, à luz das provas, não um salto de fé no escuro - na ausência de provas.

II. As razões para a necessidade de defender a fé

Há muitas boas razões para fazer apologética. Primeiro de tudo, Deus nos ordena a fazê-lo. Em segundo lugar, a razão exige isso. Terceiro, o mundo precisa dela. Em quarto lugar, os resultados confirmam isso.

A. Deus ordena o Uso da Razão

A razão mais importante para se fazer apologética é que Deus nos disse para fazê-lo. Mais e mais o Novo Testamento exorta-nos a defender a fé. 1 Pedro 3:15 diz: "Mas em seus corações reconheçam Cristo como o Senhor santo. Estejam sempre preparados para dar uma resposta a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que vocês tem." Este versículo diz várias coisas importantes.
Primeiro, ele diz que devemos estar preparados. Nós podemos nunca se deparar com alguém que faz as perguntas difíceis sobre a nossa fé, mas ainda devemos estar prontos para esse caso. Mas estar preparado não é apenas uma questão de ter as informações corretas disponíveis, é também uma atitude de disponibilidade e vontade de partilhar com os outros a verdade daquilo em que acreditamos.
Segundo, devemos dar uma razão para aqueles que fazem as perguntas (cf. Col. 4:5-6). Não se espera que cada um precise de pré-evangelismo, mas quando alguém precisar dele, temos de ser capazes e dispostos a dar-lhes uma resposta.
Finalmente, isso conecta o pré-evangelismo com fazer de Jesus Cristo o Senhor em nossos corações. Se Ele é realmente Deus, então devemos ser obedientes a Ele "destruindo as especulações e cada sofisma que se levante contra o conhecimento de Deus, e... levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo" (2 Coríntios. 10:05 ). Em outras palavras, devemos confrontar as questões em nossas próprias mentes e nas idéias expressas de outras pessoas que as estão impedindo de conhecer a Deus. É disso que se trata a apologética.
Em Filipenses 1:7, Paulo fala de sua missão como sendo a de "defender e confirmar o evangelho". Ele acrescentou, no versículo 16: "Estou posto aqui para a defesa do evangelho" (Fl 1:16). E fomos postos onde estamos para defendê-lo também.
Judas 3 declara: "Amados, embora fazendo todo esforço para escrever-vos acerca da nossa comum salvação, senti a necessidade de escrever-vos para que batalhem diligentemente pela fé que de uma vez por todas entregue aos santos". As pessoas para quem Judas escreveu estavam sendo assediadas por falsos mestres e ele precisava incentivá-los a proteger (literalmente, agonizar pela) fé conforme foi revelada através de Cristo. Judas faz uma declaração importante sobre qual deve ser nossa nossa atitude ao fazer isso no versículo 22, quando diz, "tem piedade de alguns, que estão em dúvida." Apologética, então, é uma forma de compaixão.
Tito 1:9 torna o conhecimento das evidências cristãs um requisito para a liderança da igreja. Um ancião na igreja deve estar "retendo a palavra fiel, que está em conformidade com o ensino, para que ele seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina quanto para refutar quem a contradiz."
Em 2 Timóteo 2:24-25 Paulo declara que "ao servo do Senhor não convém contender, mas ser gentil para com todos, apto para ensinar, paciente quando injustiçado, corrigindo com mansidão os que estão na oposição, esperando que porventura Deus lhes conceda o arrependimento que leva ao conhecimento da verdade." Qualquer pessoas tentando responder às perguntas dos descrentes será certamente injustiçado e tentado a perder a paciência, mas o nosso objetivo final é que eles possam chegar ao conhecimento da verdade de que Jesus morreu pelos seus pecados.
De fato, o comando para usar a razão faz parte do maior mandamento. Porque Jesus disse: “ Amarás o Senhor teu Deus com todo seu coração e com toda tua alma e com toda tua mente.‟ Este é o primeiro e maior mandamento” (Mt 22:37-38).

B. A Razão o exige

Deus nos criou com uma razão humana. Ela faz parte de Sua imagem em nós (cf. Gn 1:27. Col. 3:10). Na verdade, é através dela que somos distinguidos de "animais irracionais" (Judas 10). Deus convida-nos a usar nossa razão (Is 1:18) para discernir a verdade do erro (1 João 4:6), para determinar o certo do errado (Hebreus 5:14), e discernir um verdadeiro de um falso profeta (Deuteronômio 18:19-22).
Um princípio fundamental da razão é o de que nós devemos ter motivos suficientes para aquilo em que nós acreditamos. Uma crença não justificada é apenas isso – não-justificada. Tendo sido criados como criaturas racionais e não "animais irracionais" (Judas 10), espera-se de nós que usemos a razão que Deus nos deu. Sócrates disse: "A vida não examinada não vale a pena viver." Da mesma forma, a fé não examinada não vale a pena ter. Portanto, cabe aos cristãos "dar uma razão para a sua esperança" (1 Pd. 3:15). Isso faz parte do grande comando de amar a Deus com toda nossa mente, assim como nossa alma e coração (Mt 22:36-37).

C. O mundo precisa disso

Muitas pessoas se recusam a acreditar sem alguma evidência, como de fato deveriam. Uma vez que Deus nos criou como seres racionais, Ele espera que vivamos racionalmente. Ele quer que olhemos antes de saltar. Isso não significa que não há espaço para a fé. Mas Deus quer nos dar um passo de fé na luz - à luz das provas. Ele não quer que saltemos no escuro.
Nós deveríamos ter evidência de que algo é verdadeiro antes de colocarmos nossa fé naquilo. Por exemplo, nenhuma pessoa racional entra em um elevador a menos que tenha alguma razão para acreditar que ele vai segurá-la. Da mesma forma, nenhuma pessoa racional entra em um avião que tem uma asa quebrada e fumaça saindo do final da cauda. A crença que precede a crença em que. A evidência e a razão são importantes para estabelecer a crença em que. Uma vez estabelecido isso, uma pessoa pode colocar sua fé nele. Assim, a pessoa racional vai querer alguma evidência de que Deus existe, antes que de colocar sua fé em Deus. Da mesma forma, os incrédulos racionais querem provas para a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus antes de colocarem sua confiança nEle.

D. Os resultados confirmam isso

Há um pensamento equivocado comum entre muitos cristãos de que a apologética nunca ajuda a levar alguém a Cristo. Esta é uma grave deturpação dos fatos.

1. A conversão de Santo Agostinho

Houve vários pontos de mudança racional na vida de Agostinho, antes de ele vir a Cristo. Primeiro, ele raciocinou seu caminho para fora do dualismo maniqueísta. Um ponto de mudança significativo aqui foi o sucesso de um jovem cristão debatedor chamado Helpidius sobre os maniqueus.
Em segundo lugar, Agostinho raciocinou seu caminho para fora do ceticismo total, vendo a natureza autodestrutiva do mesmo.
Em terceiro lugar, se não fosse por estudar Plotino, Agostinho nos informa que ele não teria sequer sido capaz de conceber um ser espiritual, e muito menos acreditar em um.

2. A conversão de Frank Morrison

Este advogado cético decidiu refutar o Cristianismo mostrando que a ressurreição nunca ocorreu. A busca terminou com sua conversão e em um livro intitulado Who Moved the Stone? [Quem Moveu a Pedra?], cujo primeiro capítulo foi intitulado "O Livro que se recusava a ser escrito"! Mais recentemente, outro advogado incrédulo teve uma viagem semelhante.

3. A conversão de Simon Greenleaf

Na virada do século, o professor de Direito em Harvard, que escreveu o livro sobre evidências legais, foi desafiado por alunos a aplicar as regras de evidências legais no Novo Testamento para ver se o seu testemunho teria valor em um tribunal. O resultado foi um livro intitulado The Testimony of the Evangelists [O Testemunho dos Evangelistas], na qual exprime a sua confiança nos documentos e nas verdades básicas da fé cristã.

4. Os resultados de Debates


Muitas pessoas têm sido levadas em direção ou para dentro do cristianismo, como resultado dos debates que temos com ateus e céticos. Após debater com o filósofo da Universidade de Berkley Michael Scriven sobre "O Cristianismo é crível?" a platéia da Universidade de Calgary votou 3 contra 1 a favor do cristianismo. O jornal do campus relatava: "Ateu não consegue converter os cristãos do Campus!"
Após um debate sobre a racionalidade da crença no cristianismo com o chefe do departamento de filosofia da Universidade de Miami, a liderança cristã estudantil realizou uma reunião de acompanhamento. O professor ateu compareceu e manifestou dúvidas sobre a sua visão expressa no debate. Foi relatado que cerca de 14 pessoas que tinham assistido ao debate tomaram decisões para Cristo.
Depois de um debate sobre a religião Moonie na Northwestern University em Evanston, Illinois, uma moça Moonie fez algumas questões sobre o Cristianismo. Eu podia ver que ela tinha sido convencida de que a Igreja da Unificação não estava ensinando a verdade. Depois de falar brevemente com ela, eu a apresentei a uma estudante de seminário que a levou a Cristo.
Ao compartilhar o evangelho com Don Bly, ele nos informou que ele era ateu. Depois de raciocinar com ele do ateísmo para o agnosticismo de mente aberta, ele concordou em ler o livro de Frank Morrison. A evidência para a ressurreição de Cristo convenceu-o e nós tivemos o privilégio de conduzi-lo a Cristo. Ele posteriormente criou sua família para Cristo e tornou-se um líder de uma igreja ao sul de St. Louis.

5. Os resultados da leitura de escritos de caráter apologético

Tenho recebido várias cartas e relatórios de pessoas que foram convertidas à crença de que Deus existe ou à crença em Cristo depois de ler Apologetics works [Obras de apologética]. Deus usou os seus argumentos como um instrumento para aproximar as pessoas a Cristo.
O ateu mais famoso do mundo, escreveu: "Nem posso afirmar ter tido alguma experiência pessoal de Deus ou qualquer experiência que possa ser chamada super-naturais ou miraculosa. Em suma, a minha descoberta do Divino tem sido uma peregrinação da razão e não da fé."
O notável ex-ateu Francis Collins disse: "Após 28 anos como um crente, a Lei Moral ainda se destaca para mim como o mais forte sinal para Deus. Mais do que isso, ela aponta para um Deus que se preocupa com os seres humanos, e um Deus que é infinitamente bom e santo."
Um estudante universitário, escreveu: "Deus me enviou seu livro „Eu não tenho fé suficiente para ser um ateu‟... Abri o livro pensando que eu ia detoná-lo com o meu ponto de vista superior e a cerca de um quarto do caminho acabei pedindo perdão a Deus e o aceitando em meu coração. Tenho, desde então, crescido exponencialmente em Cristo, e pensei que em agradecê-lo por seu livro inspirador."
"Acabei de ler Why I Am a Christian [Porque eu sou um cristão], e fiquei encantado. Esse é talvez o mais poderoso e influente livro cristão que já li. Foi exatamente o que eu estava procurando. Forneceu as respostas para as barreiras que estavam me guardando contra a minha fé... Seu livro pressionou o botão vermelho da bomba nuclear da minha fé."

Conclusão

O cristianismo está sob ataque hoje e deve ser defendido contra ataques de dentro, de cultos e heresias, e de fora, de céticos e outras religiões. Nós temos uma fé racional, e a Bíblia ordenou que damos razões para isso. Como talvez o maior apologista do século XX, C.S. Lewis, disse: "Sermos ignorantes e simples agora não sendo capazes de satisfazer os inimigos em seu terreno - seria largar as nossas armas e trair nossos iletrados irmãos que tem, sob Deus, nenhuma defesa além de nós contra os ataques intelectuais dos pagãos. Uma boa filosofia deve existir, se não por outro motivo, porque más filosofias precisam ser respondidas." A razão por que nós precisamos defender a verdadeira religião é porque existem religiões falsas. A razão pela qual precisamos levantar-se pelo cristianismo autêntico é que existem formas falsificadas do cristianismo.

* Este artigo é uma revisão de um artigo inédito chamado "A Necessidade de apologética."

** Salvo notado em contrário, todas as citações da Bíblia são tomadas a partir da Nova Versão Internacional da Bíblia (NVI).

* O Dr. Geisler tem um BA, MA, THM, e doutorado (em filosofia). Ele é autor de cerca de 70 livros e tem ensinado filosofia e ética, em nível superior e pós-graduação há cinquenta anos. Atualmente é Professor Emérito de Apologética e Teologia no Seminário Evangélico Veritas (www.VeritasSeminary.com). Seus artigos e materiais estão disponíveis em www.normgeisler.com.

Fonte: Uma Apologética a Favor da Apologética - Norman Geisler | Deus em Debate

Impressões da ilha e alguns mitos de sua revolução

25 de abril de 2011 § 0


Neste mês de abril, Cuba comemorou seus 50 anos de socialismo. As últimas notícias afirmam que seu modelo socialista fracassou, seu governo acabou de aprovar reformas políticas e econômicas e ainda assim há esquerdistas que a enxergam como um bom exemplo. Buscando entender melhor o que de fato acontece e aconteceu em Cuba encontrei dois textos que esclarecem boas coisas. O primeiro foi escrito por Tiago Pizzolo do blog Biscoito Sortidos, um publicitário em formação que viajou a ilha caribenha e narrou suas impressões sobre como funciona sua economia. O segundo texto foi escrito por Paulo Roberto de Almeida, doutor em Ciências Sociais, publicado na revista Espaço Acadêmico, o qual desmistifica seu processo revolucinário. Ambos seguem abaixo:
Tentando entender Cuba: Como funciona uma economia socialista?

- Qual é a média salarial aqui em Cuba?
- Mais ou menos U$ 15,00.
- U$ 15,00?! Mas e vocês conseguem sobreviver com isso?
- É… não né.
- E como faz, então?
- Ah, a gente tem que dar o nosso jeito.

Existem duas moedas em Cuba: o Peso Cubano (MN) e o Peso Convertible (CUC). Peso Cubano é a moeda utilizada pelos nacionais. Ou seja, o super salário recebido por um nacional é pago em MN. Portanto, tudo que é relacionado ao kit básico de sobrevivência do cubano possui seu preço em MN: o ônibus público, a padaria, o mercadinho onde o nativo faz seu rancho (existe um limite de itens por pessoa nestes locais, algo como uma cesta básica), a feirinha de bairro no domingo.  O hotel, o restaurante, o ônibus para turistas, muitas lojas de roupas e livros ou qualquer outra atividade destinada para o não cubano são pagos em CUC.

Parênteses 1: 1 CUC = U$ 1,20 = 24 MN.

Não, nada se pode pagar em dólar. Desde 2004 não se aceita a moeda americana nas empresas estatais. Portanto, em Cuba, onde 99% das empresas são do Fidel Estado (da loja de calçados à empresa de turismo), o dólar não entra. Para trocá-lo por CUC, as casas de cambio penalizam a moeda em 10%. Ou seja, se você troca U$ 100,00, você recebe o equivalente a U$ 90,00 em CUC. O Euro não sofre esta penalidade, já que Cuba tem seu grande problema diplomático  com o super vilão capitalista do mal Estados Unidos da América.

Parênteses 2: Fica a dica, leve Euro quando decidir visitar Cuba.

Vale dizer que sim, um cubano pode comprar o que quiser com o CUC que conseguir pelas ruas. Mas como faz um cubano para ganhar umas moedas extras e sair da dieta de pão com manteiga?

A resposta é simples: quem trabalha em empresas estatais direcionadas ao turismo ganha seu troco extra e consegue ascender socialmente para a gloriosa classe média. Fato curioso é que podemos encontrar pessoas graduadas em Engenharia, Direito e muitas outras carreiras trabalhando como bellman, barman ou garçom. Afinal, trabalhando com turismo (e recebendo suas gojetas) conseguem ganhar muito mais que se exercessem sua profissão. Trabalhar com artesanato e música também é altamente rentável em Cuba.

Parênteses 3: Neste mundo socialista profissões diferentes recebem valores diferentes. Policiais ganham mais que dentistas e médicos, por exemplo. 

Outra alternativa para ganhar seu extra money esta no 1% dos negócios não estatais. Por exemplo, um cubano pode hospedar legalmente extrangeiros em um quarto de sua casa.  Ainda, pode fazer de sua casa um restaurante, chamado popularmente de paladar. Por fim, pode tranformar seu carro em táxi e carregar gringos de uma ponta a outra da cidade. Mas, claro, para possuir estes negócios privados, é necessário registrar-se no governo e pagar uma taxa absurda mensalmente (300 CUC para virar um semi-hotel, por exemplo). Ou você achou que Fidel iria deixar barato?

Parênteses 4: Os restaurantes populares são chamados de paladares porque na novela brasuca Vale Tudo existia um restaurante popular com o mesmo nome. Sim, os cubanos são apaixonados por nossas novelas. Atualmente, A Favorita está nas telinhas do país revolução.

Se você aluga sua casa ou seu carro para ganhar dinheiro, por quê não alugaria seu corpo? Ir a Cuba e ninguém te oferecer una chica é simplesmente impossível. Sério, eu não estou exagerando aqui, este país é o paraíso sexual de muito gringo. Prostituição é um tema é tão presente neste país que merece um post exclusivo.

Embora socialista, Cuba prova que sem o dinheiro injetado pelo turismo “capitalista” não consegue sobreviver. Ainda, o país precisou implementar muitas reformas “capitalistas” (como algumas práticas citadas acima) para manter seu regime atual, o que nos faz perguntar se realmente possui ideologia socialista ou se, nada mais, apropriou-se das empresas privadas e limitou a liberdade pública.

Parênteses 5: Se o socialismo cubano funcionasse, por quê a classe baixa neste país chega próximo aos 80%, superando os números do nosso problemático e capitalista Brasil?

É, o socialismo, que em uma primeira visão mostra-se inimigo mortal do capitalismo, revela-se em Cuba condicionado a este regime. Adam Smith deve estar rindo por último e Karl Marx se batendo em seus caixões. Antes que Fidel e seu socialismo encontrem também seu ataúde, visite Cuba e tire suas próprias conclusões.
Falácias acadêmicas, 6: o mito da Revolução Cubana 
Paulo Roberto de Almeida

1. O mito fundador: a revolução que se transformou em reação

Poucos mitos, na América Latina, especialmente entre os acadêmicos, são tão poderosos quanto o da Revolução Cubana, usualmente identificada com as figuras de Fidel Castro e de Ché Guevara – ele próprio um mito à parte, icônico em suas manifestações mais apelativas, sem esquecer o merchandising – tanto quanto pelo tremendo valor simbólico da “resistência ao imperialismo”, especialmente relevante para todos aqueles que acreditam em outro mito da mesma família: a de que esse mesmo imperialismo é responsável pela miséria e subdesenvolvimento da América Latina, cujas veias abertas estariam sendo constantemente drenadas por esse monstro capitalista (trataremos, em outro artigo da série, dessa outra falácia acadêmica).

O próprio conceito de Revolução Cubana constitui um mito inaugural: não existe mais revolução cubana, e isto há muito tempo. Tudo o que restou das transformações políticas na ilha, feitas entre 1959 e 1965 aproximadamente, foi um regime autocrático, de inspiração supostamente socialista (mais exatamente ao estilo soviético), incapaz de garantir um abastecimento adequado ao seu próprio povo (como, aliás, ocorria com todos os socialismos realmente existentes, sem exceção). Sublinho deliberadamente transformações políticas, posto que em matéria de transformações econômicas, o que ocorreu, mais exatamente, foi uma tremenda involução, um retrocesso absoluto, que resultou em que o ex-principal exportador de açúcar da região é obrigado, atualmente, a importar o produto para o consumo do seu próprio povo, sem falar da inexistência quase completa de indústrias de consumo dignas desse nome. Mas voltemos, em primeiro lugar, ao mito da revolução.

Como sabem todos aqueles que estudam sociologicamente o fenômeno revolucionário, nenhum processo desse quilate, absolutamente nenhum, dura cinqüenta anos, ainda mais com a promessa – constantemente refeita pelos dirigentes ‘revolucionários’, na verdade, reduzidos hoje a uma nomenklatura geriátrica – de que a revolução é um movimento vivo, que deve renovar-se e continuar para sempre. Um processo insurrecional e de ativa preparação para a tomada do poder político pode até durar muitos anos, como foi o caso, por exemplo, da revolução chinesa, que depois conheceu várias etapas no processo de construção do totalitarismo maoísta: a aliança de classes e as cem flores nos anos 1950, o grande salto para a frente e sua desastrosa falência entre 1959 e 1962, a revolução cultural de 1965 a 1969, a grande luta entre as cliques dirigentes depois disso e, finalmente, o que não tinha nada mais de revolucionário, a reforma gradual do socialismo chinês em direção de formas de mercado que não excluem (e até promovem) o capitalismo mais selvagem que se conhece desde Marx e Engels.

As revoluções constituem processos extremamente concentrados no tempo, ainda mais concentrados na utilização da violência política, que costumam substituir uma classe dirigente por outra, alterando completamente o sistema político e, até mesmo, as bases econômicas de funcionamento de uma determinada sociedade. Revoluções duram somente o tempo de substituição dos dirigentes no comando do Estado, a partir daí o que se tem são processos mais ou menos lentos de alteração das relações sociais, o que pode ser feito com doses extras de violência – como no caso chinês ou soviético, sob Mao e Stalin – ou, mais freqüentemente, por meio das burocracias que emergem com o novo poder. Enfim, uma revolução que dura 50 anos, na mais perfeita normalidade do comando ‘revolucionário’, é uma contradição nos termos. Todas as revoluções, a partir de um certo tempo se ‘estabilizam’ e a nova classe dirigente passa a cuidar de sua própria conservação, ou seja, a revolução se transforma em reação, quando não em algo profundamente reacionário.

No caso da Revolução Cubana, pode-se traçar, perfeitamente, uma cronologia para o processo revolucionário: a fase insurrecional durou poucos anos, a rigor desde Moncada (1953) até a tomada do poder, em janeiro de 1959, com a etapa guerrilheira se estendendo durante pouco mais de dois anos, tão somente. Ou seja, o processo de luta contra a ditadura de Batista foi algo extremamente rápido, em termos estritamente temporais, e absolutamente exitoso nos planos político-social e estratégico-militar, inclusive com a colaboração involuntária do próprio regime, que consentiu em anistiar o jovem advogado condenado por sedição após poucos meses de prisão (aqui entra um outro mito, o da “História me absolverá”, mas que pode ser deixado ao cuidado dos historiadores, por falta de espaço neste ensaio).

A partir daí se abre o processo revolucionário propriamente dito: uma fase nacionalista em 1959, logo alterada por escolhas mais radicais nos planos político e econômico – inclusive as decisões de não realizar eleições livres e de expropriar grandes latifúndios para fins de reforma agrária – seguida, finalmente, da opção propriamente socialista, entre 1961 e 1962. A partir daí, a ‘revolução’ socialista se aprofunda, com a completa estatização dos meios de produção e a ‘sovietização’ do estilo de poder e das formas de dominação, processo que culmina, basicamente, em 1965, quando começam os primeiros expurgos e o regime perde sua aura romântica que ele tinha mantido até então. Muitos intelectuais e o próprio Ché Guevara abandonam a ilha, cada qual com suas opções intelectuais e políticas intactas, os primeiros por não concordarem com essa orientação do regime cubano, o segundo para tentar fazer a revolução em outros países.

Esta é a Revolução Cubana, nada mais do que isso: a tomada do poder em nome da luta contra a ditadura, pela democracia e pela justiça social, com promessas de reforma agrária (que aliás estavam sendo impulsionadas em quase toda a América Latina pelo próprio imperialismo, insatisfeito com o estilo oligárquico atrasado de quase todos os seus aliados na região). O que veio depois de 1965 foi a administração de um socialismo que não escapou às mesmas fatalidades de seus congêneres em outras partes: ineficiência econômica, irracionalidades produtivas, falta de inovação pela ausência de estímulos apropriados e, sobretudo, repressão política, falta de liberdade completa no plano partidário, de imprensa e intelectual, e as pequenas e grandes misérias morais de todo e qualquer regime socialista.

Pior do que isso, talvez, pois outros regimes atrasados na própria América Latina também exibiam ineficiência econômica, baixíssimos índices de produtividade econômica e, tanto à direita quanto à esquerda, repressão política e falta de liberdades elementares: no caso de Cuba, tudo isso se viu agregado do velho estilo soviético (stalinista, quero dizer) de dominação e de monopólio político absoluto pelo partido monocrático e todo poderoso (algo que nem as ditaduras direitistas mais extremas na região jamais produziram). Quem achar que estou errado, deveria, supostamente, poder provar-me que a ilha caribenha dispõe de: eficiência econômica, vibrante sistema produtivo, tecnologia avançada no plano internacional, liberdade política, imprensa livre e ausência de dissidentes encarcerados por divergência de opinião. O teste é muito simples e pode começar pela existência de balseros (boat-people), algo que só as ditaduras mais extremas conseguem produzir: a existência de pessoas desesperadas, dispostas a enfrentar os riscos terríveis de uma aventura no mar, para escapar ao desespero das misérias cotidianas (que geralmente são mais econômicas do que propriamente políticas). Apenas a existência contínua desses candidatos a náufragos do regime já provaria o tremendo fracasso da ‘revolução’ cubana.

2. A especificidade cubana: uma ilha que é quase uma fazenda pessoal

O que teve, e talvez ainda tenha, a Revolução Cubana de diferente, em relação aos modelos do gênero, é o tremendo carisma de dois de seus dirigentes, um deles efêmero, é verdade, mas aparentemente eterno: Fidel Castro e Ché Guevara. Desaparecido precocemente este último, restou o velho líder revolucionário, que empolgou muita gente, na ilha e fora dela, e permanece como o símbolo do processo revolucionário. Quanto ao Ché, é um fenômeno planetário: trata-se, possivelmente, depois da Coca-Cola, da imagem mais conhecida e valorizada do mundo, presente em dez de cada nove manifestações organizadas por movimentos de esquerda, sobretudo conquistando os jovens, que compram avidamente pôsteres e camisetas para indicar sua preferência romântica, alimentando com isto um dos mais pujantes mercados capitalistas de que se tem notícia na história do merchandising mundial.

Do Ché ficou a imagem do guerrilheiro heróico, seja em Cuba, seja na Bolívia, onde fracassou na tentativa de criar um outro Vietnã no coração da América Latina. Pouco se fala de seu período à frente de La Cabaña, uma caserna do ancien régime cubano convertida rapidamente num dos mais ativos centros de fuzilamentos logo depois da vitória da revolução, muitos dos quais após sumaríssimos julgamentos, outros sem sequer essa formalidade ‘burguesa’. Se fala ainda menos de suas rápidas e catastróficas passagens pela presidência do Banco Central cubano e pelo Ministério da Indústria, cujas conseqüências mais notáveis, aliás, foram as de apressar a subordinação da ilha aos interesses da União Soviética e o início de um longo período de dependência dos subsídios russos durante praticamente toda a existência residual da URSS. Seus planos de industrialização – sem falar na tentativa de criação de um ‘homem novo’, cuja realização perfeita seria um trabalhador sem qualquer tipo de exigência material, funcionando apenas à base de ‘emulação socialista’ – foram tão desastrosos que, já em 1965, Cuba escolhia voltar para a monocultura açucareira (atenção, quem diz isso não sou eu, e sim Celso Furtado, no último capítulo de seu livro, aliás deficiente, sobre a Formação Econômica da América Latina, de 1967).

Com a morte precoce de Camilo Cienfuegos, com o afastamento de Ché Guevara e o desaparecimento ou eliminação de outros possíveis concorrentes da fase insurrecional, a revolução cubana acabou sendo dominada pela figura ímpar, sem dúvida excepcional historicamente, de Fidel Castro, que passou a administrar a ilha como se fosse uma fazenda pessoal. Foram muitas as suas tentativas improvisadas de mudar a economia da sua fazenda – como o estímulo à plantação de café, na base do empirismo puro, sem qualquer viabilidade agronômica – com resultados catastróficos a cada vez. Mas a figura de Fidel Castro há muito tempo já passou por esse fenômeno que Max Weber identificou como a ‘rotinização do carisma’, sendo improvável que esse carisma sobreviva ao desaparecimento físico do titular. O mais provável é que a ‘revolução’ – que de fato já não existe mais – se estiole numa dominação puramente autocrática-oligárquica, até sua completa erosão numa futura redemocratização e normalização da ilha, segundo modalidades ainda não detectáveis neste momento.

Enfim, este é o primeiro mito ligado a Cuba, que cabe, portanto, descartar no plano histórico e mais exatamente sociológico. Vejamos, agora, quais seriam as outras falácias que podem ser associadas ao mesmo mito, entretido com tamanho desvelo em certos círculos acadêmicos, que eu chego a receber de um desses representantes da espécie mensagens eletrônicas que são finalizadas por um desses orgulhos ingênuos de certos companheiros de viagem do socialismo cubano: “Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana.” Incrível como acadêmicos aparentemente bem informados conseguem se deixar mistificar pela propaganda de um regime incapaz de assegurar a essas mesmas crianças um futuro decente, em termos de conforto material, emprego e, sobretudo, liberdade política para se expressar normalmente pela internet, como mesmo crianças de favelas brasileiras conseguem fazer em centros comunitários que existem, justamente, para conectá-las ao mundo. Atribuo esse tipo de equívoco à ‘inconsciência revolucionária’.

O Brasil é certamente um país com muitos indigentes, alguns até com problemas de desnutrição ou de moradias precárias, falta de cuidados médicos e, sobretudo, de educação e de capacitação técnica ou profissional para o mercado de trabalho, daí a baixa produtividade, os precaríssimos rendimentos e a insuficiência geral no consumo e portanto, a baixa qualidade de vida, segundo os índices do PNUD. Não são esses indigentes, contudo, os principais candidatos à emigração econômica, característica associada à paisagem social brasileira nas últimas duas ou três décadas, aliás coincidentes com as crises econômicas, o baixo crescimento, a falta de oportunidades de emprego decente e o desalento geral com a violência, a extorsão estatal e outros traços menos agradáveis de nossa situação presente. Geralmente são pessoas próximas dos estratos intermediários inferiores, ou até da classe média, que escolhem sair do Brasil, por acaso os mesmos tipos de candidatos a partir de Cuba, com uma diferença fundamental, porém: nenhum deles é boat-people, pela simples razão de que ninguém é impedido de sair do país. No caso de Cuba, é desnecessário precisar, os mesmos candidatos frustrados se sentem como que obrigados a deixar a ilha, pelo simples fato de que não vislumbram nenhuma possibilidade de mudança em sua situação econômica no futuro previsível. Poucos, ou praticamente nenhum, dos boat-people são verdadeiramente dissidentes ou opositores do regime: na quase totalidade dos casos, se trata apenas de pessoas desejosas de escapar das misérias cotidianas da ilha, aspirando viver normalmente num país normal, não numa ilha que vive, ou sobrevive, à base de cartões de racionamento.

3. Os mitos entretidos pelo regime e por seus admiradores

Todo e qualquer Estado normalmente constituído na história humana, ou seja, uma organização política capaz de garantir o funcionamento regular de instituições de comando e um sistema econômico capaz de se auto-sustentar – independentemente de suas características mais estatais ou mais privadas, de mercado, portanto – deveria, minimamente, poder assegurar algumas condições básicas para sua manutenção, preservação e continuidade. Aqueles que não conseguem, costumam desaparecer nas dobras da história, como demonstrou em relação a alguns casos exemplares o cientista americano Jared Diamond em seu livro Colapso. Esse Estado deveria, em princípio:

1) funcionar em bases políticas razoavelmente legítimas, suscitando o consenso em torno dos mecanismos de dominação, ou despertando muito pouca oposição ou dissidência em relação ao comando do Estado; quando houver dissensão, ela deveria poder ser canalizada por meios políticos não violentos, justamente;

2) garantir requisitos mínimos de satisfação material à população, sem o que aquela legitimidade logo se esvai, sobretudo se os cidadãos (ou súditos) se sentem espoliados em seus direitos elementares à segurança alimentar, patrimonial ou até pessoal; essa satisfação requer, portanto, um funcionamento razoável dos sistemas de produção e de distribuição, com alguma possibilidade de acumulação privada ou familiar, geralmente no que se refere à habitação, mas também a outros bens físicos;

3) assegurar um mínimo de direitos quanto à segurança pessoal dos cidadãos (ou súditos), na sua disposição de residência, livre escolha de uma ocupação, de culto ou de expressão pública de suas preferências políticas e culturais, sem o que o país em questão poderia viver em estado de tensão social permanente;

4) alguma legitimidade ou reconhecimento no plano externo, de maneira a se ter um relacionamento normal no plano internacional, sem ameaças externas ou conflitos destrutivos; ainda que o ambiente externo possa ser uma variável independente – e o fenômeno do imperialismo e do colonialismo independem da configuração política e econômica que possa adotar um Estado independente qualquer – um Estado normal deve ser capaz de assegurar um mínimo de tranqüilidade para os seus cidadãos (ou súditos), sem aquela sensação de estarem sendo constantemente ameaçados por algum poder externo.

Pois bem, com base nesses critérios aparentemente anódinos e perfeitamente burocráticos no plano da análise sociológica, podemos analisar os mitos da Revolução Cubana, por meio de elementos o mais possível objetivos, para verificar, justamente, as falácias que têm sido apregoadas em torno desse fenômeno. São muitas as falácias que vem sendo apregoadas em torno da “Revolução” Cubana, mas algumas têm mais consistência do que outras.

Vejamos, por exemplo, o que se lê em recente matéria em homenagem aos 50 anos dessa “revolução” no site do único movimento político brasileiro que, aparentemente, ainda defende resolutamente o que é chamado de conquistas da “Revolução” Cubana, o Partido Socialismo e Liberdade:

Os companheiros desse partido “não podem duvidar em afirmar que a revolução cubana foi o acontecimento mais importante acontecido em nossa ‘Pátria Grande’ latino-americana. Talvez possamos divergir sobre apreciações de seu regime político, da política internacional seguida pelo Fidel em certos períodos. Mas o concreto é que foi um movimento tão poderoso e tão genuíno para que hoje Cuba seja o único país do chamado “socialismo real” que existe e do qual não só podemos reivindicar sua história como também seu presente; Cuba mantém suas conquistas sociais e seu orgulho de ser independente do imperialismo a menos de cem milhas de suas costas.” (4.01.2009; http://www.socialismo.org.br/portal/socialismo/197-artigo/709-cuba-festeja-meio-seculo-de-revolucao)

O que se reivindica, portanto, são três coisas: (a) ser o único país do “socialismo real”; (b) conquistas sociais; (c) independência do imperialismo. A bem da verdade, esses três elementos resumem, efetivamente, o que se apregoa como positivo em torno da “Revolução” Cubana e são eles que devem motivar uma reflexão sobre se esses mitos são justificados. Não devo esconder desde já meu argumento de que esses três mitos constituem, justamente, as três grande falácias em torno da “Revolução” Cubana. Vejamos cada um deles sistematicamente.

4. O mito do socialismo

Não é verdade que Cuba seja o único representante do chamado “socialismo real”: o comentarista do PSol esquece a República Popular Democrática da Coréia e... vejamos, talvez o Vietnã, ou, quem sabe ainda, a China? Não é seguro que estes dois últimos sejam ainda socialistas, estilo “real”, mesmo que suas equipes dirigentes possam fazer apelo ao conceito para definir seus regimes políticos e seus sistemas sociais. Em todo caso, sobra a RPDC, ou Coréia do Norte, na companhia de Cuba, a defender, contra ventos e marés, o sistema que perdura em ambos os países desde mais de meio século. O que isto significa no plano das falácias acadêmicas?

O conceito original de ‘socialismo científico, segundo os demiurgos originais, seria o de um regime baseado na apropriação coletiva – não necessariamente estatal – dos meios de produção e na organização social da produção e da distribuição segundo a fórmula clássica enunciada na Critica ao Programa de Gotha: “de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades”. Independentemente do fato de que essa frase de efeito não quer dizer rigorosamente nada, a verdade é que, tanto para Marx, como para Engels, o Estado deveria simplesmente desaparecer assim que os trabalhadores conseguissem colocar em marcha o programa da revolução socialista – basicamente os dez pontos do Manifesto de 1848 – com a sociedade de produtores organizados funcionando em ‘piloto automático’ e o Estado se encaminhando gentilmente para o museu das antiguidades, ao lado do machado de bronze e da roca de fiar (segundo Engels, em A Origem da Família, da Propriedade..., etc.).

Não é preciso dizer que, já a partir de Lênin, não foi exatamente isso que aconteceu, mas o seu contrário, com o Estado mais fortalecido do que nunca, e os trabalhadores organizados em batalhões de produtores compulsórios, mais próximos do regime fordista – ou taylorista – do que daquela imagem romântica dos Cadernos Econômico-Filosóficos, segundo a qual o homem socialista seria um trabalhador pela manhã, um pescador de tarde e um filósofo pela noite. O fato é que o Estado leninista serviu de padrão para a dominação mussoliniana na Itália, logo em seguida, e mais adiante para o regime de partido único e de Estado totalitário da experiência hitlerista.

Qualquer que seja a opinião de acadêmicos anticapitalistas sobre as excelências dos regimes socialistas – a igualdade social, a segurança do trabalho e da moradia, o ‘futuro brilhante’ de realizações materiais do ‘socialismo real’ – a realidade legada por esse tipo de regime e de sistema de engenharia social é uma só, quase uniforme em sua materialização concreta nos diversos continentes em que ele existiu (ou onde ele ainda sobrevive, como nos casos cubano e norte-coreano): ditadura política, polícias secretas, delação de vizinhos, crimes políticos no caso da simples expressão de um pensamento dissidente, controle estrito das populações, misérias econômicas, catástrofes ecológicas, quando não Gulag ou extermínio dos ‘inimigos do povo’. Sequer preciso mencionar aqui a fome organizada por Stálin no caso da coletivização forçada da agricultura no início dos anos 1930 – que não apenas resultou na eliminação física de milhares de kulaks, mas sobretudo na privação absoluta de populações inteiras, sobretudo na Ucrânia – ou no ‘grande salto para trás’, organizado pelo presidente Mao, entre 1959 e 1962, que pode ter resultado na morte de algumas dezenas de milhões de camponeses, com cenas de canibalismo jamais vistas desde tempos míticos...

Gostaria de frisar, em direção dos acadêmicos true believers nas ‘reais’ possibilidades do socialismo, e que poderiam desconsiderar algumas das asserções acima, como sendo apenas ‘acidentes circunstanciais’ numa trajetória feita de boas intenções potenciais desse sistema, que, mesmo retirando os ‘acidentes’ (com alguns milhões de mortos, é bom lembrar), as demais características não dependem da opinião ou posição política do observador: são fatos materiais indiscutíveis e associados genericamente à história do socialismo no século 20 e, ainda hoje, ao socialismo cubano em particular: ditadura política, monopólio do partido, regime policial, repressão aos dissidentes, encerramento de toda uma população numa ilha-prisão. O acadêmico que for capaz, ainda assim, de defender esse regime, certamente não merece esse título, podendo apenas ser classificado como sustentáculo voluntário de uma ditadura, o que é propriamente indigno de quem se pretenda acadêmico.

Em uma palavra, o socialismo do século 20 representou apenas e simplesmente isto: totalitarismo, uma herança certamente pesada para que seus supostos herdeiros ainda possam reivindicar, hoje, qualquer tipo de filiação intelectual. Que acadêmicos ou militantes brasileiros ainda defendam o socialismo como idéia, e a ‘revolução’ cubana em especial, apenas constitui um testemunho eloqüente sobre mais uma ‘inconsciência revolucionária’, que também poderia ser traduzida por duas singelas expressões: suprema ingenuidade política ou brutal ignorância informativa, em ambos os casos exemplos de estupidez acadêmica. Que alguns desses personagens tenham ódio à democracia parlamentar – que eles equiparam a uma ‘ditadura da burguesia’ – e à economia de mercado – para eles indistintamente capitalista, sem sequer saber que estão transformando deste sistema produtivo, ainda bastante limitado na história econômica mundial, em um superlativo conceitual – apenas confirma como preconceitos políticos podem obstar uma apreensão historicamente adequada das realidades políticas do século 20. Ou seja, além de estupidez acadêmica, cegueira intelectual.

Se o socialismo, enquanto conceito e enquanto realidade social, não é uma falácia completa, seus defensores deveriam ser capazes de provar que ele pode funcionar, de fato, segundo os quatro requisitos formais de um Estado normal, tal como enunciados acima, quais sejam: legitimidade política interna, funcionalidade produtiva ou material, liberdades elementares e relacionamento externo com base numa garantia de reconhecimento da representatividade do Estado em face de sua população (o que implica na admissibilidade, por exemplo, de livre acesso de órgãos multilaterais em setores específicos: livre organização de trabalhadores, segundo as convenções da OIT; respeito aos direitos humanos, segundo tratados internacionais monitorados pelo Conselho de Direitos Humanos; transparência dos procedimentos legais e judiciais, como estabelecido na Carta da ONU; liberdades fundamentais, como acordado na Declaração Universal de 1948, etc.). Trata-se, obviamente, de um teste muito simples, que qualquer acadêmico minimamente bem informado seria capaz de atender, sem alimentar qualquer falácia conceitual ou prática.

5. O mito das conquistas sociais

Mesmo reconhecendo alguns ‘problemas políticos’ – geralmente justificados pelo ‘assédio imperialista’ – os acadêmicos simpáticos a Cuba costumam argumentar com a excelência dos serviços cubanos de saúde e com a alta qualidade de sua educação, constituindo esses dois elementos as grandes justificativas em face das demais ‘deficiências’ do regime, uma espécie de compensação social pela falta de liberdades políticas e por todas as misérias da vida econômica. Estas ‘bondades da Revolução’ estão sempre na primeira linha da defesa das conquistas do socialismo cubano, constituindo, no entanto, mais um dos grandes mitos que cercam a ilha. Elas estão identificadas com as supostas conquistas sociais da ‘revolução’, como se a ilha, antes de Fidel Castro, fosse um inferno de misérias humanas e um deserto de avanços sociais. Um pouco de objetividade factual pode ajudar a avaliar essa questão.

Em 1958, Cuba ostentava bons indicadores sociais em diversos quesitos, situando-se, geralmente, nos três primeiros lugares do ranking latino-americano, junto com a Argentina e o Uruguai. Obviamente, muitos indicadores, baseados em médias nacionais, não refletiam exatamente a distribuição de serviços públicos pelo conjunto da população cubana, mas se os dados nacionais refletem uma metodologia uniforme para todos os países da amostra, eles devem poder significar realidades objetivas quanto aos serviços disponíveis. De modo geral, Cuba se situava entre as sociedades mais avançadas da América Latina, com um perfil social bem mais próximo da Europa mediterrânea do que dos demais países latino-americanos.

De um conjunto de 122 países analisados, Cuba ocupava, em 1958, o 22º. lugar em matéria sanitária, com 128,6 médicos e dentistas por 100.000 habitantes, à frente de países como França, Reino Unido e Bélgica. Sua taxa de mortalidade já era uma das mais reduzidas do mundo (5,8 anuais por 1.000 habitantes; Estados Unidos 9,5) e o nível de alfabetização da ilha era de 80%, semelhante ao do Chile e da Costa Rica e superior ao de Portugal na mesma época. Ou seja, resulta equivocado pensar que Cuba fosse uma ilha habitada por miseráveis antes da revolução. O regime socialista cubano invoca a baixa mortalidade infantil para destacar a excelência dos cuidados de saúde disponíveis para a população, mas o fato é que esse indicador já apresentava uma taxa muito baixa desde os anos 1950: em 1958, o índice cubano registrava 40 mortes infantis por cada mil nascidos vivos, uma taxa melhor do que os índices da França (41,9), do Japão (48,9) e da Itália (52,8). Não obstante essa boa situação de partida, Cuba foi ficando para trás, pois que, em 2007, o indicador cubano registrava 5,3 óbitos, contra 4,2 para a França, 3,2 para o Japão e 5,0 para a Itália.

Mesmo a situação relativamente favorável de Cuba, no confronto com outros países latino-americanos, deve ser considerada em termos de dotação de recursos para gastos de saúde: durante muito tempo, o regime cubano foi de fato subvencionado pela União Soviética, de uma forma como nenhum outro pais latino-americano foi ajudado pelo império americano. Essas subvenções, embutidas nos pagamentos pelo açúcar acima dos preços dos mercados mundiais e no financiamento direto das aventuras militares cubanas em outros continentes, sustentaram os investimentos cubanos na área social durante muito tempo. Uma vez interrompidas as transferências diretas e indiretas, a situação cubana começou a se deteriorar seriamente.

O sistema educacional cubano é, de fato, abrangente no mais alto grau, ainda que a suposta excelência não se traduza em uma pujante produção científica ou na transferência desse saber para o sistema produtivo, no qual patentes são quase desconhecidas. Pena também que, com o analfabetismo virtualmente inexistente, os cubanos não disponham para sua leitura diária que de jornais controlados pelo Partido Comunista e que seu acesso à internet só é comparável com a situação na Síria e na Birmânia. Apenas alguns poucos países exóticos mantêm, hoje, uma repressão à liberdade de informação tão ampla – com perdão pelo paradoxo involuntário – quanto a existente em Cuba. Uma população tão educada mereceria mais, certamente.

Outra das alegações freqüentes do regime se refere à suposta igualdade dos cubanos quanto à distribuição de renda. Não existem dados oficiais a esse respeito, mas estimativas de especialistas indicam que essa distribuição se deteriorou muito desde a crise do socialismo, sendo que o coeficiente de Gini passou de um índice 0,22 em 1986 para 0,407 em 1999. Em especial, no tocante à distribuição entre as classes de renda, a situação cubana conheceu uma evolução bem mais negativa do que o resto da América Latina: a razão entre o quintil mais rico e o quintil mais pobre de renda cresceu de 3,8 a 13,5 na ilha, entre 1989 e 1999, ao passo que, nesse mesmo período, a razão entre o quintil mais rico e o quintil mais pobre cresceu de 11,90 a 19,91 para a região como um todo: ou seja, em Cuba o aumento foi 3,85 vezes, enquanto o aumento na América Latina foi de apenas 1,67 vezes.

Se formos examinar a disponibilidade de habitações, a deterioração também foi sensível, com uma diminuição do número de moradias em função da baixa taxa de natalidade e da emigração. No plano mais geral do crescimento econômico a longo prazo, a trajetória cubana é também reveladora da incapacidade do sistema em produzir bem-estar. Como revelado na tabela abaixo, a posição relativa de renda por habitante de sete países selecionados, colocava Cuba em terceiro lugar em 1957, à frente da Espanha e de Portugal, tendo a ilha caído para o último lugar em 2007.


Classificação de países segundo o PIB per capita
Posição
1957
2007
1
Venezuela
Espanha
2
Argentina
Portugal
3
Cuba
Chile
4
Espanha
Venezuela
5
Portugal
México
6
México
Argentina
7
Chile
Cuba
Fonte: United Nations Statistics Division

Na verdade, o sistema socialista cubano é incapaz de alimentar o seu próprio povo atualmente, tendo a ilha de importar volumes significativos de alimentos, inclusive dos EUA, um dos principais parceiros comerciais. Incapaz de produzir bens exportáveis, Cuba tem uma balança comercial altamente deficitária, o que se reflete na dívida externa cubana e nas insolvências bilaterais com vários países europeus, com o México, com o Chile, com o Brasil e com o Japão. No total, a dívida externa cubana deve superar 38 bilhões de dólares, o que equivale a 3.410 dólares por habitante, três vezes a média latino-americana, de 1.173 dólares por habitante.

Um estudo recente sobre a situação do abastecimento alimentar em Cuba revelou dados assustadores: “Ao menos 13% da população é clinicamente subnutrida, na medida em que o estado do racionamento alimentar provê, agora, apenas entre uma semana e dez dias das necessidades alimentares básicas” (Antonio E. Morales-Pita, “Possible Scenarios in the Cuban Transition to a Market Economy”, Proceedings da Association for the Study of the Cuban Economy: Cuba in Transition 2007, p. 330). Um outro estudo confirma que “A economia cubana tem sobrevivido em larga medida graças aos investimentos, comércio, créditos e ajuda da Venezuela e, em menor medida, da China, assim como de investimento estrangeiro em setores estratégicos, como petróleo e gás, níquel e turismo, o que permitiu a Fidel lançar um processo de recentralização da tomada de decisão em 2003-2006, que reverteu a maior parte dos progressos feitos pelas modestas reformas orientadas para o mercado implementadas em 1993-1996, operando uma rígida transição de poder para Raúl” (Carmela Mesa-Lago, “The Cuban Economy in 2006-2007”, ASCE: Cuba in Transition 2007, p. 15).

Esse mesmo estudo citado imediatamente acima traz estatísticas arrasadoras sobre o declínio da produção cubana entre 1989 e 2006, em quase todos os setores da economia, sobretudo alimentares, como revelado na tabela abaixo.


Cuba: indicadores da produção física, 1989 e 2006 e variação 2006-1989 (%)
(milhares de toneladas métricas, ou unidades especificadas)
Setores, produtos
1989
2006
2006-1989 %
Petróleo
718
2.900
303
Gás Natural (milhões metros cúbicos)
34
1.085
3.091
Níquel
47
73
55
Açúcar
8.121
1.474
-82
Aço
314
257
-18
Cimento
3.759
1.705
-55
Eletricidade (bilhões kW/h)
16
16
0
Têxteis (milhões de m2)
220
27
-88
Fertilizantes
898
41
-95
Charutos (unidades)
308
418
35
Sapatos (milhões de pares)
12
3
-75
Sabão (lavanderia)
37
14
-62
Cítricos
1.016
373
-63
Arroz
532
434
-18
Ovos (milhões de unidades)
2.673
2.341
-12
Leite (vaca)
1.131
415
-63
Fumo
42
29
-31
Gado (milhares de cabeças)
4.920
3.737
-24
Peixes e frutos do mar
192
55
-71
Fonte: Carmela Mesa-Lago, “The Cuban Economy in 2006-2007”, op. cit., p. 4.

De fato, a situação econômica é deveras preocupante, daí as tentativas do novo governo pós-Fidel de introduzir algumas reformas pró-mercado para paliar essas dificuldades, como já tinha ocorrido com diversos outros países socialistas no período anterior à implosão final. Não é preciso alinhar muitos dados sobre essa deterioração constante, bastando mencionar o aumento da prostituição, do mercado negro e das transações ilegais, bastante visíveis para qualquer turista que tenha visitado a ilha nos últimos anos. Por uma dessas ironias da história, uma das principais alegações para o exacerbado nacionalismo e anti-americanismo cubano do período imediatamente posterior à revolução foi, justamente, a eliminação da designação infame da ilha como sendo o ‘bordel do imperialismo’. Aparentemente, os velhos tempos estão de volta...

6. O mito do imperialismo como ameaça

Finalmente, a escusa principal do regime para tentar explicar as dificuldades da vida econômica em Cuba sempre foi, historicamente, o ‘embargo americano’, aparentemente responsável por todos os problemas da ilha. Trata-se, provavelmente, do maior mito entretido pelo regime durante o último meio século, posto que esse embargo é amplamente contornado pelo comércio de Cuba com todos os demais países do mundo, sendo as únicas exceções as empresas americanas instaladas nesses países. Na verdade, como explicitado acima, os EUA converteram-se atualmente no principal fornecedor de alimentos para Cuba, sendo que muitos outros produtos americanos ingressam na ilha por terceiros países. A alegação é falsa, portanto.

Pode-se mencionar, também, as remessas dos cubanos emigrados a seus familiares na ilha, um aporte tão ou mais substancial do que aquele representado pelas transferências de trabalhadores mexicanos nos EUA para seu país natal. Cabe registrar que são essas divisas, ademais das gorjetas que médicos ou engenheiros ganham como taxistas clandestinos ou guias turísticos, que permitem paliar, um pouco, a situação de penúria absoluta da maior parte das famílias, aliás incontornável para todos aqueles que não dispõem de uma fonte de renda em moedas fortes.

De fato, o imperialismo tentou derrubar o regime cubano em 1961, numa desastrada operação da CIA que tinha sido montada ainda antes da administração Kennedy, assim como a CIA tentou assassinar Fidel Castro várias vezes, sem sucesso nenhum, em vista da excepcional qualidade da inteligência cubana, muito bem treinada por soviéticos e alemães orientais. Mas, as tentativas para minar o regime terminaram logo depois da crise dos mísseis de 1962, assim como o Congresso americano impôs um veto, desde os anos 1970, aos atentados contra a vida do líder cubano. O que restou, de tudo isso, foi o estúpido embargo americano, mais determinado pelo Congresso do que pelo Executivo, em função das expropriações de propriedades americanas não indenizadas no período de radicalização da revolução. Se o embargo tivesse sido suspenso – o que é difícil em vista do lobby cubano da Flórida – o regime não teria praticamente nenhuma desculpa para os níveis baixíssimos de padrão de vida para a maioria da população cubana.

Para ser mais preciso, é verdade que o governo socialista cubano abandonou o FMI e o Banco Mundial, consideradas entidades subordinadas a Washington, mas Cuba nunca deixou de fazer parte do GATT – atualmente da OMC – e pode, assim, transacionar com todos os demais membros do sistema multilateral de comércio. Portanto, ainda que exista animosidade do governo americano em relação ao regime socialista, na prática a ilha está absolutamente livre para intercambiar produtos com a quase totalidade do planeta, não o fazendo apenas por falta de competitividade de sua economia e da ausência de oferta exportável, inclusive de produtos tradicionais. O imperialismo, como diriam os maoístas, é um tigre de papel, hoje sobretudo interessado na normalização de relações, com o afastamento dos falcões do ex-governo Bush. Cuba já é membro da Aladi e foi admitida no Grupo do Rio, inclusive com o ativo apoio do Brasil, relacionando-se normalmente com todos os países do hemisfério, à exceção, ridiculamente, do império.

7. À guisa de conclusão: um manifesto a favor do povo cubano

Para não dizer que todos os acadêmicos ou intelectuais alimentam falácias sobre Cuba e sua situação econômica e política, permito-me transcrever aqui um manifesto de apoio ao povo cubano escrito por intelectuais argentinos. Assim diz o texto, no original, com cortes mínimos por conter informações desnecessárias:

    “Ante la situación política de Cuba, un grupo de intelectuales argentinos dio a conocer una declaración, en la que expresa su apoyo moral al pueblo de ese país en su lucha para restablecer el imperio de la libertad y la justicia en la tierra de Martí. La declaración dice así:

    “Los escritores y artistas argentinos que subscriben (...) expresan su solidaridad con quienes, en otros pueblos de América, luchan por la liberación de sus respectivos países, sometidos a regímenes de fuerza. Desean manifestar especialmente su apoyo moral al pueblo cubano, que, tremendamente agraviado y despojado de las garantías elementales de la civilización política, sufre persecución, vejamen y tortura, y lucha con admirable decisión y valentía para abatir la dictadura y restablecer, en la tierra de Martí, el imperio de la libertad y la justicia, cimentados en la soberanía del pueblo y la vigencia del derecho.”

Firmaram esse documento dezenas de nomes de intelectuais conhecidos na história artística e literária argentina, entre eles Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges. Pois bem, como ambos escritores, como se sabe, já não estão mais entre nós desde algum tempo, cabe fazer um esclarecimento a respeito e agregar um comentário pessoal sobre esse tipo de exercício, se eventualmente conduzido atualmente.

O texto, na verdade, não é atual, tendo sido publicado no diário El Mundo, de Buenos Aires, em 2 de março de 1958, e se referia, portanto, à luta dos democratas e revolucionários cubanos contra a ditadura de Fulgencio Batista, justamente. Os argentinos, então, saíam de uma outra ditadura, ainda que alguns a classificassem simplesmente de regime populista: o governo peronista, que tinha durando dez anos, desde o imediato pós-segunda guerra. Os intelectuais argentinos se orgulhavam, assim, de ter deixado para trás um triste período de sua história e se dispunham a ajudar outros povos da América Latina que também lutavam contra a ditadura em seus respectivos países, antecipando um pouco o que seria a chamada “doutrina Betancourt”, formulada depois de superada uma outra ditadura na Venezuela nesse mesmo ano de 1958 (e que levou inclusive o governo venezuelano a suspender relações diplomáticas com o Brasil, quando instalada aqui a ditadura militar de 1964).

Se me permito, agora, fazer um comentário atual, na verdade uma triste constatação, seria esta. Não creio que, atualmente, intelectuais brasileiros ou argentinos, ou de qualquer outro país latino-americano, se dispusessem a assinar um manifesto do mesmo teor – que poderia ter, inclusive, exatamente o mesmo texto – em favor do povo cubano, em luta pelo restabelecimento da democracia e do império da liberdade, da justiça e do direito naquela ilha, desde cinqüenta anos dominada por um regime que prometeu acabar com uma ditadura opressiva.

Pode ser patético fazer tal tipo de constatação “regressiva”, mas ela nos revela o quanto recuaram os intelectuais latino-americanos na defesa da democracia e da liberdade em nossos países. Em nome de não se sabe qual ‘soberania popular’ e de não se sabe qual ameaça de ‘dominação imperialista’, intelectuais dos países latino-americanos se mostram muito mais dispostos, na verdade, a assinar, de forma totalmente servil e incompreensível, manifestos em favor da continuidade da ditadura na ilha caribenha. Se pretendesse citar nomes, eu poderia alinhar alguns acadêmicos brasileiros que cometeram a indignidade de apoiar o regime cubano quando este condenou à morte alguns balseros (boat-people) que tentavam fugir da ilha, em 2003. Triste constatação, sem dúvida, que talvez merecesse adjetivos mais fortes.

Esta última constatação não constitui, obviamente, uma falácia acadêmica, no sentido aqui analisado. Trata-se, mais propriamente, de uma renúncia à inteligência e à dignidade intelectual, e de um abandono de valores normalmente exibidos por membros da academia, como os dos direitos humanos, do princípio democrático, da liberdade de opinião e de expressão e, sobretudo, da liberdade de ir e vir, valores pelos quais muitos desses acadêmicos se bateram durante a ditadura militar brasileira. O fato de não termos, em direção do povo cubano, a mesma defesa enfática de princípios e objetivos que animaram, no passado, a comunidade acadêmica brasileira, só pode revelar uma deterioração tremenda de seu senso moral ou mesmo da simples coerência com valores filosóficos que deveriam ser universais. Mas, parece que não...

Nota 1: Retirei o texto transcrito em espanhol, acima, do seguinte capítulo neste livro: “Expresan su adhesión al pueblo de Cuba intelectuales argentinos”. In: Jorge Luis Borges, Textos Recobrados (1956-1986). Buenos Aires, Emecé Editores, 2007, p. 323-324.

Nota 2: Os dados econômicos referidos neste ensaio foram retirados dos ‘proceedings’ de 2007, da Association for the Study of the Cuban Economy, com o apoio da Universidade do Texas, em Austin, neste link: http://lanic.utexas.edu/project/asce/publications/proceedings/index.html; adicionalmente, recorreu-se à publicação “Carta de Cuba, la escritura de la libertad”, sob a responsabilidade de um conjunto de autores e disponível no link: http://www.elcato.org/node/3948; acesso em fevereiro de 2009. 
 Fonte: Falácias acadêmicas, 6: O mito da Revolução Cubana | Espaço Acadêmico